• POR NÁDIA SIMONELLI
Atualizado em
Paulo Mendes da Rocha (Foto: Filippo Bamberghi)

Morreu na madrugada deste domingo (23/5) o arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928-2021). A arquitetura brasileira perde seu mais notável representante após a partida de Oscar Niemeyer, que deixa um impressionante legado, essencial para o desenvolvimento de nossas cidades, à disposição de novos arquitetos e urbanistas. O capixaba Paulo Mendes da Rocha  fez parte da icônica geração de modernistas da Escola Paulista, liderada por João Batista Vilanova Artigas, com quem trabalhou antes de abrir seu próprio escritório, e assinou obras emblemáticas pelo Brasil afora, principalmente na cidade de São Paulo. Em 2006, sua trajetória foi coroada com o prêmio Pritzker, o mais importante reconhecimento da arquitetura mundial.

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Mendes da Rocha se formou como arquiteto e urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1954, e fez parte de uma das primeiras turmas da instituição. Desde de seu primeiro grande projeto, o ginásio do Clube Atlético Paulistano, a obra de Artigas já se mostrava uma grande influência. Concreto armado aparente, grandes espaços abertos e estruturas racionais caracterizavam a Escola Paulista da arquitetura brasileira. A corrente se preocupava em promover obras cruas, limpas, claras e socialmente responsáveis - a inspiração estética do movimento vinha do Brutalismo europeu.

Em 1961, o arquiteto passou a ministrar aulas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Nesse momento, professores e alunos iniciavam um intenso debate sobre o papel social dos arquitetos. O governo militar, instaurado no país em 1964, não tolerou a discussão e cassou os direitos políticos de Mendes da Rocha em 1969, o que o proibiu de ministrar suas aulas. Somente em 1980 ele retornou à universidade e em 1998 se aposentou compulsoriamente.

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Sua obra foi reverenciada em várias partes do mundo e em razão disso, recebeu diversas premiações. Entre as mais importantes, estão o Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina, pelo projeto de reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2001, e o Pritzker, em 2006. Em março de 2015, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Lisboa e em maio de 2016 ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza. Ao longo desses anos, sua obra é aclamada pela crítica e certamente atua como uma importante fonte de inspiração para a nova safra de arquitetos brasileiros.

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Abaixo, conheça os principais projetos que levam o traço racional do eterno mestre Paulo Mendes da Rocha.      
 

Ginásio do Clube Paulistano, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Leonardo Finotti)

Ginásio do Clube Atlético Paulistano (1961)
Criado em parceria com João de Gennaro, o ginásio do clube localizado nos Jardins, em São Paulo, possui uma cobertura que se destaca no conjunto. Seis pilares de concreto, aparentes e dispostos em círculo, apoiam a marquise com mais de 12,5 metros de diâmetro.

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Casa Butantã, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Adriana Yin, Luca Caiaffa e Nels)
Casa Butantã, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Adriana Yin, Luca Caiaffa e Nels)

Casa no Butantã (1964)
Projetada para ser a residência de Paulo Mendes da Rocha e de sua irmã, a casa no Butantã, em São Paulo, na verdade são duas, com plantas e estruturas praticamente iguais. Cada uma delas é formada por um único pavimento, elevado por quatro pilares. Com poucas divisões e sem janelas nos quartos, configuram-se como casas que se voltam para dentro.
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Edifício Guaimbê. por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Leonardo Finotti)

Edifício Guaimbê (1965)
Situado na rua Haddock Lobo, em São Paulo, o Edifício Guaimbê possui uma fachada de concreto aparente e não há um portão para separá-lo da calçada. As laterais do prédio são marcadas pela presença de brises, que permitem a entrada de luz e ao mesmo tempo garantem a privacidade dos moradores. No interior, não há corredores e as paredes fazem curvas para separar os ambientes.
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Estádio Serra Dourada, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Leonardo Finotti)

Estádio Serra Dourada (1975)
Considerado um dos cartões postais de Goiânia, o Estádio Serra Dourada tem capacidade para 50 mil espectadores. A cobertura em balanço é certamente o destaque do projeto, que ainda conta com dois grandes jardins em seu interior. Pilares redondos produziram imensos vãos, que trazem leveza, simplicidade e simetria a este projeto integrado à paisagem do entorno. 

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MuBE, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Igor Schutz)

Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) (1986)
Um dos projetos mais significativos da obra de Paulo Mendes da Rocha, o MuBE, em São Paulo, é formado por uma enorme viga perpendicular à via principal e um vão livre de 60 metros. As áreas de exposição ficam localizadas abaixo do nível da rua, o que traz silêncio e uma aconchegante atmosfera de contemplação. O próprio museu já é uma escultura arquitetônica, que integrada ao jardim projetado por Burle Marx, ganha um caráter ainda mais especial.
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Capela de São Pedro, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Cristiano Mascaro)

Capela de São Pedro Apóstolo (1987)
A arquitetura limpa e clara dessa capela, em Campos do Jordão, exprime as principais características de toda a obra de Paulo Mendes da Rocha. Com estrutura de concreto armado e paredes de vidro, o público pode visualizar a exuberante paisagem da região. Envolvida em uma atmosfera mágica, a moldura de vidro da capela reflete o céu, as pessoas e o entorno, confundindo quem está dentro e fora. Assim, a nave também é refletida em um espelho d’água, onde está o batistério. Um só pilar sustenta nave, coro e teto.
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Pinacoteca do Estado de São Paulo, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Leonardo Finotti)

Reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1988)
Originalmente projetado por Ramos de Azevedo em 1805, o prédio onde está instalada a Pinacoteca do Estado passou por uma reforma na década de 1990, orientada por um projeto assinado por Paulo Mendes da Rocha. A atualização da construção era necessária e principalmente dar a ela uma infraestrutura mais funcional. Para isso, construíram um elevador para transporte de materiais e de público, novos banheiros e os espaços de depósito e acervo foram ampliados. O laboratório de restauro, a biblioteca e toda a rede elétrica também foram readequados. Os pátios internos ganharam coberturas com estrutura metálica e vidro laminado, apoiadas sobre as estruturas de alvenaria. Assim, esse espaço ficou protegido da chuva e se tornou adequado para receber exposições.

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Casa Gerassi, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Leonardo Finotti)

Casa Gerassi (1989)
Nesse projeto,em São Paulo, Paulo Mendes da Rocha inovou ao utilizar um recurso construtivo pouco visto na época: o sistema pré-moldado, comum, até então, em edifícios públicos. O volume superior, onde ficam os ambientes, está apoiado em pilares, formando um vão de 15 metros, que abriga a garagem. No interior, os espaços são fluidos, o que promove maior interação entre a família. A iluminação natural e a ventilação são abundantes, facilitadas pelas amplas aberturas nas laterais e na laje.
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Arco na Praça do Patriarca, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Fernando Östlund / reprodução)

Projeto para cobertura da Galeria Prestes Maia, Praça do Patriarca (2002)
Um pórtico metálico conecta o centro velho com o novo, em São Paulo. A cobertura, apoiada somente pela estrutura na parte superior, possui um desenho elegante, que se assemelha às asas dos aviões. Abaixo dela, há um vão de 40 metros, onde há abrigo e sombra. Essa obra é fruto de uma parceria entre a Associação Viva o Centro e a Prefeitura de São Paulo e tinha como objetivo auxiliar na revitalização do centro da cidade. A praça só foi possível após a demolição de um quarteirão inteiro, antes tomado por paradas de ônibus.
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Museu da Língua Portuguesa, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Leonardo Finotti)

Reforma da Estação da Luz e Museu da Língua Portuguesa (2006)
O maior desafio do arquiteto nessa empreitada foi implantar um museu moderno em um prédio histórico, além de não prejudicar o fluxo de passageiros na Estação da Luz, em São Paulo. Assim, a visitação ocorre de maneira inusitada, de cima para baixo. Para dar maior conforto aos visitantes, foram instalados quatro novos elevadores, o que demandou a abertura de grandes vãos na laje do edifício. Uma cobertura de metal e vidro, cujo desenho lembra a da Pinacoteca, foi instalada sobre os pátios.

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Museu dos Coches, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Fernando Guerra / reprodução)

Museu dos Coches (2008)
Em Lisboa, o Museu dos Coches é marcado pela fluidez entre espaços públicos e privados. No térreo, está a entrada do museu, uma cafeteria e a loja, além de uma grande praça. Nesse espaço todos os ambientes possuem paredes de vidro para criar uma sensação de integração com o exterior. Para chegar às salas de exposição, os visitantes utilizam um elevador, também de vidro. Há também um edifício anexo, feito de concreto e aço, que abriga a administração da entidade e a biblioteca, além de outro, onde está o restaurante.
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Cais das Artes, por Paulo Mendes da Rocha (Foto: Metro Arquitetos / divulgação)

Cais das Artes (2013)
O primeiro projeto do arquiteto construído em sua cidade natal, Vitória, reúne um museu e um teatro, equipados para receber eventos de arte de grande porte. A principal característica do conjunto arquitetônico, localizado na Enseada do Suá, é a valorização da paisagem e da história da cidade. Por isso, Paulo decidiu suspender os edifícios do solo e criar uma praça aberta à população da cidade. Esse projeto foi criado em conjunto com o escritório METRO.


Sesc 24 de Maio (2017)
Assista ao vídeo onde o arquiteto Paulo Mendes da Rocha faz uma visita guiada exclusiva com Casa Vogue para mostrar os detalhes do SESC 24 de Maio.